A pessoa que você ama te disse que viria. Não precisou horário ou data, mas avisou de sua chegada. Você já esperava antes mesmo do anúncio. E correu para arrumar a casa, embora tudo antes disso já fosse preparação e espera. Você começa pelo que é mais pesado, afasta móveis, muda muitas coisas de lugar. Embora caprichosa, tenta se apressar pra que tudo esteja perfeito quando precisar abrir a porta, sem deixar nada por fazer.
Feito isso, vai para os detalhes. Garante que os lençóis tenham cheiro de querer ficar, que terá uma roupa a mais pra emprestar enquanto se demora, que a mesa esteja pronta e farta, cheirando a conversas demoradas. Tudo é ansiedade e espera. As horas passam conforme você encontra coisas que podem ser melhoradas, tira do armário uma coisa colorida que há tempos você não lembrava de por na parece, dá até tempo de ajeitar melhor coisa ou outra. E espera.
Quando ainda não sabe que ela já está quase chegando, você até pensa que ela pode nem vir mais, mas ainda assim tira poeira de uns cantinhos escondidos. Quando ela chega você está pronta. Mais que pronta, você está como jamais esteve, e sabe disso. Tudo é perfeito. Quando aquilo acontece, você não sabe o que foi que aconteceu. Não há entusiasmo nem alegria e você nem mesmo parece estar na sua própria casa. Não sabe para onde ir, nem que rumo dar à prosa, parece não saber onde está o sofá e por um momento chega a esquecer pelo quê esperava.
Quando ela vai embora, não resta dúvidas que não ficou alegre com a sua companhia. Seu melhor não era o bastante. Mas o pior disso tudo foi ter deixado em você esse sentimento de incompletude que não te deixa mais. Você também já não basta mais à si. A casa que sempre foi sua você já não reconhece mais. Não gosta mais dos móveis, a comida ficou sem graça. Guarda tudo, ainda que tenha esperança escondida em algum lugar. Quer mudar paredes, trocar cores, não se sente mais a vontade. Você não se serve mais… Você não se reconhece mais! Está longe de ser o que é, e mesmo tendo consciência disso, ainda quer saber voltar sozinha pra casa que já não habita…
Sinto muita falta de quando eu era, quero morrer quem sou agora.